O tal Boletim Focus e a sua presença em nossas vidas
Por Dandara Barreto | 31/10/2024 12:50 e atualizado em 31/10/2024
Por Rosevaldo Ferreira*
Já virou mania dos Economistas tentar prever o futuro. Se você conhece algum destes seres que orbitam em nossa convivência, inclusive este que vos escreve, deve observar que é quase que um toque querer adivinhar o futuro. Assim prevemos o preço da carne, da gasolina, do tomate, etc., que a lista é muito longa. Ao longo do tempo os métodos foram sendo aperfeiçoados, bem como o interesse em colocar um dado de previsão onde deseja o autor.
Assim é feito semanalmente, com o Banco Central divulgando uma meta de inflação para o ano seguinte. Sim, semanalmente o Banco publica um boletim que entre outras coisas, prevê o índice anual de inflação. Nunca é demais lembrar que a inflação é um aumento generalizado dos preços, ou seja, um simples aumento no preço do açúcar não significa o índice de inflação. Antes, precisamos entender que é uma sigla Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, ele é calculado pelo IBGE, aproveitando o custo de diversos itens como produtos da cesta básica, moradia, transporte, alimentação, e mais algumas coisinhas, ou seja, não é um nem dois e nem três, mas milhares de produtos e suas variações de preços no mês que ele é calculado, depois se pega este resultado e compara com o mês anterior e pimba, temos o índice mensal. Vamos voltar ao mundo real e perguntar, quem elabora o boletim focus pelo Banco Central, se o IBGE é quem calcula o índice? aí que vem a primeira estranheza, pois o Banco Central pergunta a representantes de 140 instituições financeiras, sim isso mesmo, se pergunta a uma galera qual a expectativa de preços e eles emitem um parecer que semanalmente é divulgado. Esta previsão é levada em conta para que a autoridade monetária defina a taxa de juros básica da economia e essa sim vai afetar nossas vidas.
A partir do momento que eles jogam previsão inflacionária para um patamar elevado, surge a necessidade de aumentar a taxa básica de juros da economia brasileira, a famigerada e mal debatida Selic, que ao ter este valor aumentado com a desculpa esfarrapada de combater a inflação, faz com que os títulos da dívida pública sejam generosamente compensados e para fazer caixa que justifique o pagamento destes juros ao setor financeiro, se exige do governo de plantão, um corte visceral de gastos públicos, que exige sacrifícios da população brasileira, em especial aquela parcela mais pobre que precisa de transferência de recursos estatais.
Setores da mídia patrocinados pelo setor financeiro, fazem uma verdadeira procissão de fé, explicando que este comportamento dos agentes, vai beneficiar a população, fazendo a barata acreditar que tem de escolher entre o chinelo e o inseticida, fazendo as pessoas acreditarem que não tem saída, pois isso atrai investidores, movimentando a Economia e gerando empregos. Que se não for deste jeito, os investidores tiram dinheiro do Brasil e investem em outros mercados, como por exemplo, os EUA. Isso é uma mentira deslavada que é colocada na cabeça frágil de algumas pessoas, que passam a defender o chinelo. A verdade, que os juros altos beneficiam apenas os rentistas, aquelas pessoas que vivem de juros, com o dinheiro parado no setor financeiro, o que na ótica de falta de patriotismo destes agentes, existe um custo de oportunidade, onde ele não quer trabalhar diariamente com gestão de recursos humanos, clientes, fornecedores, governo e optam em deixar sua grana rendendo juros e quanto mais rendimento, mais à vontade em não investir no setor produtivo da economia. Em suma, o empresário vai sempre optar em viver de renda, ainda mais que as 140 instituições aumentam a previsão inflacionária, e o Banco Central aumenta os juros e por conseguinte, incrementam os ganhos de Capital com aplicações financeiras que aumentam a dívida pública e empobrecem o povo brasileiro.
E como nada que esteja ruim não fique pior, se tem a consciência que existe grana para bancar o setor produtivo, as famigeradas operações compromissadas, se precisa fazer um debate amplo sobre essa sobra de caixa dos bancos, sendo remunerada com o sacrifício imposto a maioria da população, sim existe uma grana parada e rendendo juros aos bancos e quanto maior a Selic, maior essa remuneração. Sabe o que isso significa? O povo está morrendo de fome e sede em frente a um banquete a beira de um rio de água doce e cristalina.
* Rosevaldo Ferreira é economista, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), foi Diretor de Tributos da Prefeitura de Feira de Santana, Coordenador de Projetos do Sudic, Auditor Fiscal, Coordenador Regional da Agerba e Coordenador do Curso de Economia da UEFS.

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