É namoro ou amizade?
Por Coluna O Jogo e o Tabuleiro | 21/08/2025 15:00 e atualizado em 22/08/2025
Foto: Divulgação
Por Victor Limeira*
A aproximação de José Ronaldo e Jerônimo Rodrigues provoca especulações, pressiona ACM Neto e deixa Zé Neto de sorriso amarelo.
Em tempos de polarização, até gestos institucionais viram símbolos políticos. No Brasil de hoje, onde as redes sociais radicalizam posições e transformam cada movimento em sinal, ninguém acredita que encontros entre adversários sejam apenas protocolares.
Até pouco tempo, o antagonismo político no país se resumia ao PT e ao PSDB. De 2018 para cá, com a ascensão de Bolsonaro e o peso definitivo do digital, passamos a viver outra lógica. A polarização virou regra. O debate público se tornou monotemático, refém de algoritmos que reduzem a complexidade e empurram todos para os extremos. Nas redes, não há meio-termo: ou você é, ou não é.
É nesse ambiente que a aproximação entre o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), e o prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo (UB), chama atenção. Sem ceder à lógica imposta, eles parecem fazer política como antigamente.
Jerônimo derrotou ACM Neto em 2022 e governa um Estado que o PT comanda há 19 anos. Ele busca ampliar a base, conquistar prefeitos e fragilizar o ex-prefeito de Salvador, que tenta se manter como principal liderança da oposição na Bahia.
✅📲 AQUI A NOTÍCIA CHEGA PRIMEIRO: Seu novo portal de notícias de Feira de Santana e região! Entre no nosso grupo do WhatsApp e receba as principais notícias na palma da mão!
>> Siga o perfil oficial do T Notícias no Instagram para mais informações.
Feira de Santana é peça-chave nesse tabuleiro. Segundo maior colégio eleitoral do Estado, com forte influência regional, a cidade recebe agendas frequentes de Jerônimo. Mais que compromissos institucionais, ele aparece lado a lado com Ronaldo em registros amplamente divulgados nas redes sociais.
O movimento ganha ainda mais relevância se voltarmos a 2022. Naquela oportunidade, Ronaldo foi rifado da chapa majoritária de Neto, preterido da vaga de vice-governador na última hora. A mágoa permanece latente. A justificativa oficial da recente aproximação é institucional, mas o efeito político é imediato: cada gesto gera especulação e expõe fissuras na oposição.
Quem não sorri nessa equação é Zé Neto. Derrotado seis vezes na disputa pela prefeitura de Feira, sempre com apoio petista, ele surge nas fotos com semblante amarelo. Cada sinal de afeto entre Ronaldo e Jerônimo representa uma ameaça direta ao projeto de, enfim, chegar ao Paço Municipal.
E é aí que o movimento se torna estratégico. Não se trata apenas da eleição estadual. O foco está também na disputa municipal de 2028. Se Jerônimo construir pontes com Ronaldo, ele não só desestabiliza Neto agora, como interfere no futuro do grupo político de Feira. A dúvida é clara: Ronaldo está abrindo espaço para um reposicionamento ou apenas garantindo influência e recursos locais?
Para Neto, o risco é evidente: perder Ronaldo não é só perder um aliado histórico. É abrir espaço para que o PT se fortaleça em Feira, cidade símbolo de resistência ao projeto petista. Para Ronaldo, o dilema é permanecer fiel a um grupo que o deixou de lado e preservar sua linearidade política ou explorar novas possibilidades que podem recolocá-lo no centro do jogo estadual outra vez.
No fim, a pergunta não é apenas sobre 2026. É sobre como esse xadrez impactará 2028, quando Feira estará novamente no foco da disputa. O que hoje parece apenas um sorriso para a foto pode, amanhã, marcar o início de um realinhamento histórico no reino do dendê. A política baiana já viu carlistas virarem petistas. A dúvida agora é se chegou a vez de José Ronaldo quebrar a quarta parede e atravessar a ponte.
*Victor Limeira é jornalista, estrategista político e eleitoral.
Acompanhe nas redes sociais: Band FM, Jovem Pan FM e TransBrasil FM. Também estamos presentes no grupo do WhatsApp.
leia também